Conheci Araçoiaba através de um projeto social que estava sendo implantado na cidade desde 2005. Araçoiaba tinha um dos cinco menores IDH – Índice de Desenvolvimento Humano - do estado de Pernambuco. O objetivo era melhorar a educação, a saúde e o desenvolvimento econômico das pessoas e da cidade. Para que isso acontecesse era necessária a participação ativa da comunidade. Aos poucos, as pessoas foram se envolvendo até assumir o projeto.
Ao estar na cidade e conhecer as pessoas percebi que Araçoiaba é igual a tantas outras cidades do Brasil, que não são sertão, nem zona da mata, nem zona urbana, sendo assim, não usufruem de nenhum incentivo. Sua rotina é a rotina imposta pelos latifundiários da região. Vivem a sazonalidade da cana de açúcar, seis meses trabalham na colheita, seis meses fazem bicos, na maior parte do tempo, não fazem nada, apenas esperam. É uma vida com poucas saídas.
O projeto acendeu em mim a vontade de participar, de querer, de alguma forma, ajudar essa comunidade. Foi assim que decidi realizar um documentário que mostrasse a vida em Araçoiaba, que contasse o cotidiano dessas pessoas, as suas lutas, dificuldades e alegrias.
A cidade possui uma dezena de quadrilhas que se mobilizam e se preparam durante meses As vezes ensaiam durante semanas, com muito custo conseguem fazer seus figurinos (quando conseguem), dependem da boa vontade do poder público ou de alguém para apresentar suas coreografias uma ou duas vezes no mês de junho, período que se comemora a festa de São João.
Queria fazer um filme que falasse dessas manifestações, de cidades comuns, que não tem nenhum atrativo especial e de brasileiros, pessoas as vezes esquecidas, com perspectiva de vida limitada, mas que apesar de suas adversidades, não desistem mesmo sabendo que ninguém olha para elas.
Quis realizar um filme simples, onde a voz das pessoas estivesse ali, sem grandes interferências de minha parte. Fui para ouvir, para ver e no final, para me enredar em suas vidas. Com esse filme quis dar espaço a elas, às suas vidas que são tão parecidas com a vida da grande maioria dos brasileiros. No final suas lutas são as mesmas lutas que as nossas, cidadãos urbanos.
Creio que esse documentário é importante para trazer à luz a realidade da grande maioria das cidades espalhadas pelo Brasil e que nunca olhamos, que não existem, que esquecemos, que não nos interessam por serem talvez simples demais. E é nesse ponto que foco o meu olhar e meu interesse, nas pessoas e como elas fazem para, como todos nós, buscar seus desejos, sonhos e alegrias. Me interesso pelas suas experiências e em como elas fazem para conduzir seus próprios destinos. E assim me transformar. E espero que com esse filme, outros tantos brasileiros também possam ajudar e talvez, quem sabe, mudar e olhar além de si mesmos.