21 de novembro de 2010 - Araçoiaba
Havia muita expectativa enquanto me dirigia à Araçoiaba para exibir, pela primeira vez, o nosso documentário "Depois de Ontem Antes de Amanhã".
Quando saí de Recife, o final do dia estava para começar. A estrada agora estava ampliada e com duas pistas em cada direção. Rolamos algum tempo por ela até encontrarmos o retorno de acesso à estrada de Araçoiaba.
Logo que entramos nesta estrada, uma mudança já se produzira, os buracos e grandes ondulações foram substituídos por um asfalto novo e macio. Enquanto deslizávamos por ele, admirados pela melhora, o sol baixava no horizonte e nos apontava a cidade.
A cana de açúcar continua onipresente e por quilômetros não há outra vegetação. Nada parecia ter mudado a não ser pela estrada que ainda estava em processo de melhorias com homens trabalhando em sua transformação.
Aos poucos, percebi em alguns trechos que a cana estava baixa, como se fossem pequenos arbustos. Nesse período do ano é o ciclo da colheita e processamento (moagem) da cana. Mais alguns quilômetros a frente e a paisagem muda radicalmente, o verde da cana dá lugar ao marron da terra, a imagem é de devastação. De um lado e de outro, a cana fora extraída e sem muita demora, começamos a cruzar com enormes caminhões que transportavam o que sobrara daquele visual verde e leve. Definitivamente, essa era outra Araçoiaba, um prenúncio de uma outra cidade que eu iria encontrar.
Quando entramos na cidade, nada realmente havia mudado, as mesmas casas, as mesmas cores e, exceto pela igreja, que agora estava terminada, imponente e toda de azulejos e vidro e um novo posto de gasolina moderno, tudo parecia estar igual.
Mas algo estava diferente. Quando viemos filmar, a cidade esperava o início da colheita para voltar ao trabalho, as pessoas estavam todos os dias nas ruas, nos bares e mesinhas nas calçadas. Havia mais agitação e músicas das mais variadas, a cada dez metros, todas juntas, tocavam em uníssono. Hoje, era uma outra cidade, mais calma, menos ruidosa, talvez mais adormecida.
A praça da escola Maria Gaião ainda estava vazia, apenas alguns jovens sentados nas baixas muretas que contornam um jardim inexistente, algumas crianças correndo e adultos em volta, distantes. O único sinal de que algo diferente estava para acontecer, eram dois rapazes montando a tela e o projetor, mas ninguém parecia se interessar pelas atividades desses dois estranhos. Ninguém parecia se importar com a a apresentação que começaria em uma hora.
O reencontro com Lucivânia e Josenilda foi emocionante, afinal, desde julho de 2008, não nos víamos. Um abraço forte e muitas conversas para colocar em dia. Suas vidas mudaram muito. Uma se separou e a outra é mãe pela quarta vez. Daniel, que não estava presente, agora é motorista de ônibus e estava "prô lado de Goiás".
Às 19 horas, a praça ainda vazia, resolvemos iniciar a projeção. Achei que não haveriam mais do que duas dezenas de pessoas. Apagamos as luzes dos postes em volta e dentro da praça e não sei de onde, várias pessoas começaram a se aproximar e se instalar nas cadeiras e muretas. A praça ficou tomada por adultos e crianças de todas as idades.
O filme começou em meio ao zum zum zum, havia excitação no ar, agitação que aos poucos foi dando lugar ao silêncio e quando vi, todos estavam concentrados na tela, olhando sua cidade, os lugares que já nem percebem mais, as pessoas com quem convivem diariamente. Silêncio e concentração alternavam com risos e comentários quando reconheciam situações e pessoas, seus amigos e conhecidos. Mesmos os jovens que estavam ali mais pela farra, foram se interessando.
Ao final, quando a última cena terminou e a tela, antes com as cores da cidade, deu lugar à ausência de imagens, o público começou a aplaudir. Estavam felizes com o filme e orgulhosos de ver sua cidade na tela.
Agora, o ciclo está completo, começamos nossa historia em Araçoiaba e a cidade pode começar um novo capítulo de sua história.
Josenilda - personagem do filme |
Lucivânia - personagem do filme |
Chris,
ResponderExcluirQue emoção que deve ter sido essa apresentação.
Que vontade de estar lá e sentir também.
Que bom pra mim, ter a chance de saber o que acontece depois que um filme fica pronto.
Um beijo, Stella.
Querida, Stella! Foi mesmo uma emoção misturada com expectativa e apreensões. Mas foi tudo muito legal e eles estão super felizes.
ResponderExcluirJá está repercutindo muito. Um candidato da oposição quer fazer exibições do filme na cidade para que as pessoas vejam o filme, sua cidade e suas histórias.
Te conto mais coisas em breve! Obrigada.
Bjs
ê, Chris... Nossa.
ResponderExcluirEnquanto lia, outro filme se passou aqui, na minha cabeça! O Processo sempre é algo assombroso né? Essa confirmação de que o tempo existe, e de que ele passa. É assombroso lembrar, como se fosse ontem, das reuniões ainda sobre o roteiro! As organizações para a viagem; toda a "saga feminina" que rolou no set; a montagem, o delete do HD "A"! (hahahaha burro ;) A primeira exibição para as meninas, lembra o estresse? As pauladas? Bom demais saber que, quando defendi, tinha razão...
O doc é foda, e você é a dona da bola! Mais uma vez parabéns, e obrigado por tudo, mesmo.
É uma honra ter sido seu escudeiro!
BJS
G